quinta-feira, 10 de junho de 2010

O colostro

Oi, gente!
Hoje falaremos de uma importante forma de imunização passiva: o colostro.
Se levarmos em conta o pequeno embrião que acompanhamos desde o segundo post, já falamos sobre algumas formas de imunização, mas todas competiam ao feto e depois ao embrião. Falamos sobre a imunidade inata e também sobre a formação da imunidade específica, humoral e celular. Mas hoje iremos tratar mais profundamente sobre a forma primordial de imunização passiva: o colostro.

Visão geral da imunidade: esquema sobre o que já tratamos no blog.

O colostro é um líquido amarelado produzido três meses antes do parto e liberado imediatamente no momento em que o neonato suga o mamilo da mãe. No momento em que ele suga pela primeira vez o peito, um impulso elétrico vai pra hipófise, estimulando a produção de oxitocina, um hormônio que estimula a produção de leite pelas células lactofatoras. No intervalo das mamada a hipófise ainda é responsável pela produção de prolactina, que permite que essas células lactofatoras se "abram", soltando o leite nos ductos lactantes.


Ductos mamários: pequenos cálices que se abrem através do trabalho hormonal para liberar o leite.

Depois desse trabalho hormonal sincronizado, esse primeiro leite é transmitido ao neonato. Um leite rico em imunoglobulinas A (IgA) e fatores complementares, o colostro auxilia o neonato, que não está com todos os fatores da imunidade inata amadurecidos.
Ora, isso é óbvio se pensarmos um pouco! O nosso neonato não está com a acidez do estômago estabelecida, logo o PH do suco estomacal não pode auxiliar nesse momento as bactérias que entram pelas vias digestivas. O estômago do neonato também não está preparado, com a flora bacteriana estabelecida, e a flora intestinal é vital para a imunidade, já que essa flora normal é responsável pela competição com bactérias e fungos que podem por ventura querer se instalar no sistema digestório do nosso bebê.
Então, naquele colostro rico em imunoglobulinas e fatores complementares está a chave para a criação da imunidade madura do nosso animal. As imunoglobulinas presentes no leite se fixarão no trato digestório e no trato respiratório do neonato, principalmente.Além disso, o colostro também é rico em lactobacilos, que migrarão para os intestinos auxiliando nos fatores de imunidade inata.
É importante ressaltar que a medida que as horas passam, o nosso neonato vai perdendo a capacidade de absorver as imunoglobulinas passadas através do colostro. Isso porque a permeabilidade do intestino vai diminuindo a partir das 24 horas após o nascimento, e impedindo a absorção de moléculas grandes, como anticorpos. Esse fenômeno é chamado de fechamento intestinal.

Gráfico que esquematiza a quantidade de imunoglobulinas no soro de animais neonatos, evidenciando como o tempo interfere na absorção das imunoglobulinas.

Mas é claro que estamos falando em linhas gerais. O que acontece na realidade é que várias espécies de animais tem suas próprias adaptações imunologicas. Algumas espécies como os bovinos, equínos, suínos e caprinos têm a imunização placentária nula, ou seja, toda a imunização passiva inata é feita através do colostro. Outros animais como os carnívoros, tem a imunização meio a meio. E humanos, ratos tem a imunização colostral quase nula.

Ovinos: exemplo de animais que não apresentam permeabilidade placentária para imunoglobulinas, e as conseguem praticamente todas do colostro.

Soma-se isso também ao que falamos no post da semana retrasada, sobre a cuíca. A cuíca é um marsupial. Os marsupiais tem sua imunidade quase que totalmente adquirida, sendo que nascem prematuramente e através da sucção das mamas (que ficam protegidas em uma bolsa) vão crescendo e se preparando.
É bom ressaltar que estamos falando sobre a imunidade adquirida desses animais, que é totalmente fornecida através do colostro, mas que esses animais tem sim formas de produção e maturação de células de defesa próprias.

É mais importante ainda ressaltar que nem tudo se resume a imunoglobinas. Existem também os fatores complementares de imunidade, proteínas responsáveis pelo reconhecimento de patógenos, reconhecimento esse que pode desencadear vários tipos de respostas, incluindo a lise do patógeno, a resposta inflamatória e o recrutamento da resposta imune adaptativa.
Sistema complemento: proteínas que sinalizam células potencialmente prejudiciais ao organismo. Nessa figura, temos esquematizado uma cascata de reações que culminou com a lise da célula, sendo essa apenas uma das respostas possíveis após a ativação do sistema complemento.

É isso, gente! Esperamos que vocês tenham gostado. Próximo post trataremos de um assunto igualmente interessante. O sistema imune do nosso neonato agora irá lutar contra possíveis infecções e patógenos, expondo assim, uma visão integrada e geral do sistema imune como um todo!
E depois, trataremos de patogenias que acometem recém nascios, neonatos e fetos!
Esperamos que o post tenha sido legal, comentem! E até a próxima,
equipe do imunologando

2 comentários:

  1. É muito interessante constatar o quanto o colostro é importante no desenvolvimento do animal, o que nos leva a concluir que não devemos efetuar o desmame prematuramente.

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  2. Verdade, Fátima. Infelizmente muitas pessoas não sabem o quanto o colostro auxilia na formação do sistema imunologico do animal. Consequentemente, interrompem essa importante etapa e acabam formando animais fracos, sucetíveis a doenças e infecções do trato respiratório antes de formarem e amadurecerem o sistema imune próprio.
    A informação auxilia não só os proprietários, mas também os animais!

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